sábado, 20 de agosto de 2011

A Pessoa Mais Importante do Mundo (1/2)


Para “elevar a nossa auto-estima”, parentes, amigos, escritores de livros de auto-ajuda, palestrantes motivacionais e pregadores da Teologia da Prosperidade dizem ou dão a entender que você é a pessoa mais importante do mundo.



É tão lisonjeador que não percebemos que (pelo menos no caso dos autores e conferencistas) eles dizem o mesmo para todos, o que é logicamente contraditório. Mais que isso, a verdade é que, embora cada um de nós seja inestimável como pessoa única, nossa importância é relativa e limitada. Todos os meses nascem e morrem milhões de seres humanos como eu e você (incluindo muitos que se consideravam “a pessoa mais importante do mundo”), mas o planeta continua girando normalmente e o mundo continua funcionando e prosseguindo com ou sem eles. Não temos que “elevar nossa auto-estima”, nós temos que equilibrá-la.

Por outro lado, muitos consideram outro indivíduo a pessoa mais importante do seu mundo particular. Essa pessoa pode ser um parente, o cônjuge, um amigo, um líder, um famoso. Parece humilde e amoroso pensar assim, mas essa atitude tende a gerar relacionamentos desequilibrados e doentios. A idealização leva à idolatria. Podemos e devemos valorizar muito certas pessoas, mas sempre dentro do razoável e sempre debaixo de princípios. A outra pessoa pode ser admirável, mas é um ser humano com limitações e (além disso) imperfeito como todos nós. Pode ser importante para nós, mas sua importância é relativa.

Só existe um Indivíduo que realmente é a Pessoa mais importante que existe: o próprio Deus. Infelizmente, conforme já mencionado, muitos consideram a si mesmos como “a pessoa mais importante do mundo”, o que leva a uma série de atitudes e decisões ruins. A primeira pessoa a cometer esse erro foi Eva, que se deixou seduzir pelas palavras de um anjo rebelde que se materializou na forma de cobra ou manipulou uma para conversar com ela.

O Diabo falou com Eva sobre Deus como se Ele não tivesse autoridade real, banalizando e distorcendo a ordem divina sobre a Árvore do Conhecimento para parecer uma mera afirmação tola e abusiva feita com a intenção de impedir Eva de usufruir a vida e de progredir. Inflou a auto-estima de Eva fazendo-a se sentir muito importante e capaz, uma pessoa que faria muito “sucesso” se deixasse de pensar em seu relacionamento com Deus e com seu marido e pensasse primeiro em si mesma. Assim, para Eva, a pessoa mais importante do mundo passou a ser ela mesma e não Deus.

Os amigos de Jó eram adeptos da Teologia da Prosperidade e tentaram fazê-lo considerar a si mesmo a pessoa mais importante do mundo em vez de Deus. Eles basicamente afirmaram que (1) SE um indivíduo é obediente às leis divinas, forçosamente Deus lhe abençoa de modo que nada de ruim nunca lhe aconteça, (2) se é assim, ENTÃO acontecimentos ruins só acontecem com os desobedientes e que, (3) PORTANTO, os grandes sofrimentos de Jó estavam ocorrendo porque ele de algum modo deixou de ser obediente e assim perdeu a bênção de Deus [mas se Jó se arrependesse e voltasse a ser justo, Deus seria obrigado a abençoá-lo de novo].

Jó começou bem, replicando a primeira premissa. Porém, sendo pressionado, ele gradualmente começou a replicar a conclusão deles. Desta forma Jó estava aceitando implicitamente a validade da primeira premissa e defendendo a própria justiça em vez da justiça divina, sendo induzido a colocar-se como a pessoa mais importante do mundo. Felizmente um amigo de verdade (Eliú) interviu e depois o próprio Deus, orientando Jó a ajustar seu modo de pensar e colocar Deus como a Pessoa mais importante que existe.

Essas duas premissas da Teologia da Prosperidade são falsas por causa de uma verdade fundamental: DEUS É SOBERANO.

SE a justeza de um indivíduo obrigasse Deus a abençoá-lo de forma que nada de ruim nunca lhe acontecesse e ele fosse assim isentado de todo e qualquer sofrimento e frustração, ENTÃO este indivíduo teria o Soberano do Universo sob seu controle e o Criador seria servo da criatura em vez do contrário. A Teologia da Prosperidade nega o ensino bíblico de que todos nós já nascemos pecadores (imperfeitos) e merecedores da destruição eterna e que é apenas pela fé em Jesus que escapamos dela. Mesmo o indivíduo que sinceramente se torna cristão e pratica os princípios bíblicos continua sendo um ser humano imperfeito que só pode se aproximar de Deus pelo mérito de Jesus: ele foi justificado, o que é diferente dos anjos justos que jamais foram pecadores. Ele é íntegro, não perfeito. Perfeição só na vida eterna.

Além disso, conforme já citado, a Teologia da Prosperidade nega a Soberania de Deus, invertendo a relação entre Criador e criatura. Mesmo que uma pessoa nascesse sem pecado e conseguisse obedecer a Deus perfeitamente, Deus não seria obrigado a nada. Essa crença infantil (acreditar que um mero ser humano pode controlar o Soberano do Universo) é a mentalidade de uma criança de dois anos, mas trilhões de vezes mais absurda.

É verdade sim que obedecer a Deus nos ajuda a evitar muitos sofrimentos. Mas não todos. Deus é Soberano e ele permitiu a existência temporária do sofrimento, que pode atingir e atinge até os seus servos mais sinceros. Até as melhores pessoas têm sua quota de sofrimentos inevitáveis. No caso de Jó, Deus permitiu que ele (sem saber dessa razão) passasse por tudo aquilo para que seu caso servisse de exemplo de que os Seus servos, mesmo sendo humanos imperfeitos, podem e devem continuar servindo-o fielmente, pois são motivados pelo amor, replicando assim as acusações do Diabo de que eles o servem só por interesse egoísta.

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