sábado, 8 de agosto de 2009

Apologistas e Apologética

Tradução:

1 - Os mórmons estão perdidos, são enganadores de Satanás que acreditam em outro Jesus...

2 - Ok... Fale-nos agora sobre suas próprias crenças...

3 - !!!!!!

4 - Os mórmons estão perdidos, são enganadores de Satanás que acreditam em outro Jesus...

X – X – X – X – X – X – X

No decorrer de toda a História, sempre que pessoas foram PAGAS para sistematicamente encontrar erros e apontar errantes, o resultado foi a exploração, a corrupção, a degeneração e a punição de inocentes. Exemplos disso foram a caça às supostas bruxas na Inquisição, a caça aos supostos dissidentes na URSS, a caça aos supostos comunistas nos EUA depois da Segunda Guerra e a caça aos supostos contra-revolucionários na China de Mao. Essa mesma exploração, corrupção, degeneração e punição de inocentes pode ocorrer entre pessoas religiosas? Sim, pode e ocorre de fato.


Embora eu discorde respeitosamente dos Santos dos Últimos Dias (mórmons), essa charge expressa bem a atitude de muitos “apologistas” evangélicos. Eles (esses “apologistas” evangélicos) não possuem nenhuma mensagem positiva, são especializados e obcecados em criticar as supostas falhas dos grupos não-evangélicos. Mas se alguém lhes pede para apresentarem uma mensagem SEM criticar outros grupos, eles ficam perplexos, sem palavras e voltam a criticar outros grupos. Por que essas pessoas e esses grupos têm esse modo de pensar e agir?

Entre outros motivos, é uma jogada para desviar a atenção dos seus correligionários dos erros internos das suas próprias igrejas. É a antiga tática de promover união interna estimulando o medo de um inimigo externo. De fato, o pior pesadelo possível para estes “apologistas” seria um dia acordar e descobrir que os mórmons, as testemunhas de Jeová e outros grupos simplesmente desapareceram, deixaram de existir: “E agora, de quem falaremos mal?”

Se esses “apologistas” fossem sinceros, eles criticariam menos os supostos erros dos outros grupos religiosos e focariam mais as falhas de suas próprias denominações. De fato, eles poderiam extrair lições dos outros grupos: “olha pessoal, embora discordemos deles nos pontos A, B e C, reconhecemos que nos pontos X, Y e Z eles estão biblicamente corretos e agem muito mais exemplarmente do que nós, precisamos nos autocorrigir”.

Além disso, em vista do elevado analfabetismo bíblico dos evangélicos em geral (muitos mal conseguem localizar Gênesis na Bíblia), proporciona status e admiração entre os evangélicos saber criticar bombasticamente outros grupos religiosos e supostamente ser capaz de refutá-los. Esses críticos se tornam heróis, até mesmo ídolos: “nós somos pessoas comuns e não conseguimos abrir a Bíblia e provar que eles estão errados, mas o irmão Fulano é muito estudado e ele consegue”. (Mas a maioria “deles” também não é de “pessoas comuns”? Então por que “eles” conseguem defender suas crenças?).

E vale lembrar que alguns elementos são pagos exclusivamente para “pesquisar” os outros grupos religiosos e têm uma quota de críticas mensais a entregar, seu salário depende disso. Não importa a veracidade das acusações, importa apenas que a quota seja cumprida. Um livro evangélico criticando outros grupos religiosos que venda bem pode render dezenas de milhares ou mesmo centenas de milhares de reais ao bolso do escritor, sem contar as conferências pagas. E quantas pessoas não obtêm renda direta ou indiretamente com estes compêndios, conferências e cursos de "apologética"? Toda livraria evangélica possui uma prateleira ou mesmo uma estante sobre o assunto, existem revistas e até editoras especializadas. Quantas pessoas estão envolvidas nesta cadeia de produção, distribuição e comércio, desde o porteiro, o faxineiro e o motorista até os proprietários das editoras e livrarias, sem contar os líderes religiosos pagos?

Uma curiosidade muito reveladora: apesar de todos os absurdos que ocorrem no meio evangélico, a única igreja evangélica que é sistematicamente criticada e que costuma ter seu nome mencionado com todas as letras é a Congregação Cristã do Brasil. Outras igrejas (como a Universal, a Mundial, a Graça, a Deus é Amor, etc.) podem até ter práticas e ensinos questionados, mas evita-se mencionar os nomes das denominações e de seus líderes e toma-se o maior cuidado para “pegar leve” nas críticas, apesar dos absurdos que estas dizem e fazem. Por que a CCB é criticada mais fortemente do que as demais? Simples: a CCB não cobra dízimos, não paga oradores nem assalaria líderes, não promove ídolos da música “gospel”, não participa ativamente do comércio de produtos evangélicos, não promove “congressos” evangélicos e outros eventos gospel. A CCB está biblicamente errada em diversos aspectos, mas nestes pontos ela está relativamente correta e é criticada por isso.

Por fim, existem pessoas com distúrbio de personalidade que são odiadores crônicos, vivem em função de odiar outras pessoas ou grupos. Criticar outros lhes dão uma sensação de superioridade e um alívio da consciência que são muito prazerosos. É o que a Psicologia chama de “complexo de culpa extrapunitivo”, a pessoa projeta sua imperfeição e deficiência moral nos outros e os ataca para sentir alívio do seu próprio complexo de culpa e de inferioridade. Quando essas pessoas se convertem a uma igreja evangélica e expressam ódio contra outras organizações religiosas e contra seus membros, em vez de seus correligionários as corrigirem para que tenham atitudes cristãs, eles as admiram como sendo muito zelosas e capazes e as estimulam ainda mais.

Entretanto, com os meios de comunicação modernos, não dá mais para encobrir o que acontece dentro dos círculos evangélicos. Felizmente existem evangélicos conscienciosos que estão mais focados em corrigir os erros internos do que em apontar as supostas falhas externas, em limpar seu quintal do que em criticar os quintais ao redor. É sábio que façam isso, pois quem tem telhado de vidro não deve jogar pedras nos vizinhos.

Muitos estão mais sábios e não se deixam mais levar por essa jogada do "inimigo externo". É exatamente o que alguns políticos fazem nas campanhas eleitorais: dedicam-se quase só a criticar as idéias dos outros candidatos e/ou a do ocupante atual do cargo. Depois da eleição do Collor, muitos brasileiros aprenderam dolorosamente a não se deixarem levar por quem se dedica demais a criticar os outros.

O mero fato de uma pessoa criticar a religião dos outros não prova que a religião dela está certa, mesmo que suas críticas sejam válidas. Se você segue a doutrina X e acredita que a doutrina Y está errada, criticar a doutrina Y não prova que a doutrina X está certa. Não é errado ocasionalmente fazer com respeito uma crítica honesta a outras doutrinas. O problema é o foco e a atitude. A única forma eficaz de combater a escuridão (física ou espiritual) é acender a luz. Se a doutrina X de fato tem base bíblica, então basta você bondosamente comprová-la com a Bíblia que automaticamente você estará refutando a doutrina Y. Mas se você não consegue fazer isso com eficiência e bondade, essa dificuldade revela algo a seu respeito, algo que precisa ser corrigido urgentemente.

Jesus ordenou que fôssemos motivados pelo amor a Deus e ao próximo a levar uma mensagem bíblica de esperança para as pessoas. É o que devemos fazer.