sábado, 8 de agosto de 2009

Quer mesmo entender o que acontece?


Porque em muitos cultos os presentes ficam muito mais entusiasmados com músicas gospel contendo letras triunfalistas e melodias seculares do que com hinos de louvor a Deus sóbrios e tradicionais?

Por que ninguém diz nem faz nada contra um destacado bispo neopentecostal que se pronuncia a favor do aborto?

Como grande parte dos evangélicos pode aceitar a teologia da prosperidade que gera um falso cristianismo paganizado em sua relação mercantilista com os deuses?


Por que todos os dias um pregador radialista ou televisivo pede contribuições urgentes? O contrato com a emissora é diário? Não é estranha a promessa de que Deus recompensará em uma semana os contribuintes? Por que o pregador não o faz mesmo uma contribuição para outro e assim recebe a bênção? E como pode haver pessoas que contribuem para esse sistema vicioso?

Como pode um curso de teologia por correspondência oferecer bacharelado (quatro anos) em seis meses? Como alguém pode receber o título de “doutor” sem nunca ter defendido uma tese? E de qualquer forma, que história é essa de doutorado? O antiintelectualismo é errado, temos que estudar a Bíblia, mas precisamos ir ao erro oposto?

Por que nas eleições da convenção de uma denominação há tantas polêmicas, fofocas e falsas profecias e como pode haver compra e venda de votos se é um evento realizado por líderes que afirmam ser cristãos, inspirados e infalíveis?

Como podem pregadores e ouvintes dar mais importância para anjos do que para Jesus? Como podem acreditar em absurdos como que há um anjo para cada tipo de cura? Como pessoas que carregam a Bíblia podem dar e receber em troca de contribuições financeiras sabonetes de arruda e outros amuletos milagreiros?

Como certas pessoas podem ouvir literalmente a voz de Deus todos os dias? Já atingiram um grau de santidade tão pleno assim? As Escrituras podem ser descartadas como meio de comunicação com Deus?

Como algumas denominações podem investir milhões na construção de catedrais e programas de TV e nada em seminários para capacitação da liderança e obras missionárias para países pobres?

Como pastores que parecem sérios podem confraternizar com pastores que propagam doutrinas bizarras como a confissão positiva? Como um sujeito pode pregar testemunhos bizarros envolvendo galinhas e profecias absurdas com depósitos milagrosos na conta corrente dos ouvintes e não ser advertido pela liderança da denominação?

Essas questões apareceram em postagem que foram repetidas em diversos blogs, como nos links abaixo. Fiz uma paráfrase delas e postei uma resposta.

http://teologiapentecostal.blogspot.com/2009/04/quero-entender.html

http://teologiapentecostal.blogspot.com/2009/04/quero-entender-parte-02.html

Quer mesmo entender? Cuidado com o que deseja, pois pode tornar-se realidade.

Durante décadas as denominações evangélicas mantiveram um armistício entre si para concentrar suas forças em conquistar adeptos nas outras religiões e entre os não-religiosos, não umas das outras (não "pescar em aquário"). Os membros de cada igreja podiam criticar as outras igrejas em particular e dizer que a sua era a melhor ou mesmo a única certa, mas em público deviam banalizar as divisões e até elogiarem essas mesmas igrejas. E não deviam ficar tomando adeptos umas das outras, deviam se concentrar nos inimigos externos compartilhados.

Para manter esse armistício, durante décadas os evangélicos declararam (1) que não importa a denominação a qual você pertence, apenas que "aceite" Jesus e (2) que cada um pode interpretar a Bíblia como bem entende e ninguém pode discordar da interpretação de ninguém. Afirmar o contrário dessas máximas era identificado como característica das "seitas". O resultado é este.

A regra não-escrita diz que, desde que a pessoa ou grupo (1) afirme crer na doutrina da Trindade (mesmo não fazendo idéia do que se trata, como a maioria) e (2) concorde com a cobrança de dízimos, pode-se dizer e fazer virtualmente o que quiser que ninguém pode criticar. Por outro lado, por mais biblicamente exemplar que um grupo seja, se discordar de qualquer um destes pontos, é chamado de "movimento contraditório" e até de "seita". O resultado é esse.

Durante décadas, os evangélicos consideraram o tamanho da denominação e o crescimento numérico como principais critérios para se avaliar um grupo religioso, era comum a falácia "minha igreja é melhor do que a sua porque minha igreja é maior do que a sua" (exceto, é claro, quando o assunto era a Igreja Católica, omissão estratégica) e deixaram a qualidade espiritual de lado. O resultado é esse.

Os neopentecostais apenas levaram ao extremo lógico as atitudes que os pentecostais tiveram durante décadas e se adaptaram ao consumismo da cosmovisão pós-moderna. O resultado é esse.

Durante décadas, os evangélicos deixaram a exposição da Palavra em quinto lugar em seus cultos, criticaram o estudo das Escrituras e a preparação metódica de sermões e colocaram a experiência pessoal ("sinto no meu coração", "deus me revelou") acima da autoridade da Bíblia. O resultado é esse.

Em resumo, a resposta está em Jeremias 8:8-9: "Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, e a lei do SENHOR está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas. Os sábios são envergonhados, espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria, pois, têm eles?"