sábado, 8 de agosto de 2009

Testemunhos que me impressionam


Há alguns anos em um programa de TV secular dois homens foram entrevistados sobre uma experiência muito desagradável que tiveram. Os dois eram irmãos e trabalhavam como palhaços (não de circo, deviam ser animadores de festas ou algo assim) e foram acusados injustamente de certo crime. Talvez o fato de ambos serem negros tenha contribuído para ninguém acreditar em sua inocência e eles foram presos.


Um cidadão honesto ser acusado de um crime que não cometeu e preso irregularmente por autoridades movidas pelo preconceito é uma experiência extremamente desagradável, que pode facilmente deixar alguém amargurado e muito desanimado. Eles devem ter se sentido muito mal com todo esse processo. Mas apesar de todo o mal-estar, os dois também eram evangélicos e aproveitaram a estadia na prisão para distribuir exemplares da Bíblia e transmitir mensagens aos outros presos

O tempo passou (não sei quanto) e eles finalmente provaram sua inocência, foram libertados, sua história virou notícia e eles foram chamados para contá-la no programa de TV. Não sei de que denominação os dois eram e provavelmente eles tinham algumas doutrinas das quais eu discordaria. Mas é esse tipo de experiência que me impressiona.

Não fico nem um pouco impressionado com histórias de milagres. Principalmente aquelas que apresentam um deus caprichoso, autocontraditório, rigoroso contra banalidades e indiferente a barbaridades. Um deus que mais parece uma força impessoal que podemos controlar se seguirmos as instruções e formos “santos” o suficiente. Um deus que promove o materialismo e o comodismo dos seus seguidores, mais preocupado em proporcionar bens materiais do que a vida eterna. Um deus gangster que quer ser servido por bem ou por mal: compra as pessoas com suborno ou (se não funcionar) as força a servi-lo provocando sofrimentos. Um deus pior do que o Diabo, incoerente com a personalidade e modo de agir de Deus apresentados na Bíblia, o padrão supremo de conduta e doutrina.

Fico sim impressionado com experiências que falam sobre pessoas que praticaram o altruísmo, a abnegação, a submissão a Deus durante as adversidades que ele permite. Pessoas que não se consideram melhores do que os outros nem se consideram “boas” só porque não praticam crimes. Pessoas que em vez disso fazem ativamente o bem ao próximo de acordo com a Bíblia e assim são usadas por Deus como instrumentos para beneficiar outros, principalmente em sentido espiritual.

Porém, a maioria das pessoas só quer ouvir histórias mirabolantes em que o sujeito nada faz, só fica sentadinho recebendo bênçãos de Deus. Essas histórias lembram um bebê no carrinho tomando papinha na boca. Nem segurar a colher o bebê consegue. Assim é a religiosidade infantil de muitos.

Fico imaginando os dois contando essa experiência em muitas igrejas que há por aí. Os ouvintes ficariam na maior expectativa e (quando eles terminassem) as pessoas ficariam perplexas. O diálogo a seguir é fictício, mas reflete bem a maneira de pensar de muitos que afirmam serem cristãos:

-Mas é só isso? Já terminaram?

-Sim. [responderiam estranhando a pergunta]

-Mas não houve nenhuma libertação espetacular?

-Não. Tivemos que lutar muito para provar nossa inocência e sair da prisão.

-Mas não aconteceu nenhum milagre? Vocês não tiveram nenhuma visão? Não apareceu nenhum anjo?

-Não. Nada. Não precisava: nosso conhecimento bíblico era suficiente para nos orientar e fortalecer.

-Mas vocês disseram que ficaram tristes, preocupados, magoados, desanimados?

-Sim, passamos por muitos momentos de tristeza, preocupação, mágoa e desânimo.

-Mas vocês não enfrentaram tudo rindo triunfantes de que Deus libertaria vocês milagrosamente e que não sofreriam nada?

-Não. Acreditamos que Deus, como Soberano, pode permitir que seus servos sofram dificuldades visando seus propósitos maiores.

-E vocês não ganharam nada de Deus no final? Nem um Fiat 147?

-Não. Ao contrário, tivemos muito prejuízo com tudo o que aconteceu e estamos lutando para nos recuperar.

-E que história é essa de distribuir exemplares da Bíblia e ensinar as Boas Novas aos outros presos?

-Era e é nossa obrigação como discípulos de Jesus: trabalhar para divulgar sua mensagem.

-O quê? Nós temos que trabalhar para Jesus?

-Sim, nós temos. É isso que realmente significa ser discípulo de Jesus.

-E o que ensinaram aos outros presos? A cantarem? Histórias de milagres? A seguirem os costumes da igreja? Promessas de prosperidade? Que tudo é culpa do Diabo e resolvido com exorcismo?

-Nada disso. Ensinamos a eles a lerem e obedecerem a Bíblia. Ensinamos com a Bíblia que existe um Deus maravilhoso que os ama, mas que o pecado é um abismo intransponível entre nós e Deus e que todos nós somos pecadores impotentes em uma contagem regressiva para a própria destruição eterna.

Ensinamos que o próprio Deus construiu a “ponte” entre ele e nós para sermos salvos por nos dar o sacrifício de Jesus para pagar nosso pecado herdado. Ensinamos que nós temos que fazer nossa parte “atravessando a ponte” por nos tornarmos discípulos de Jesus obedecendo aos seus mandamentos bíblicos, amando a Deus acima de tudo e amando ao próximo como a nós mesmos.

Ensinamos que para termos a aprovação de Deus nós precisamos ler a Bíblia e seguir seus princípios, não os costumes de uma igreja. E que tudo isso exige esforço e autodisciplina constantes, que somos responsáveis perante Deus e que não basta deixar de fazer o mal, temos que agir para fazer o bem.

Ensinamos que o cristianismo autêntico nos livra de muitos problemas, mas Deus não promete riquezas materiais e uma vida fácil, livre de quaisquer sofrimentos e necessidade de esforçar-se, como muitos estão pregando. Ensinamos que Deus promete sim nos dar orientação e apoio e nos oferece uma vida eterna perfeita muito superior a qualquer riqueza que este mundo possa oferecer e que por isso vale a pena ser discípulo de Jesus.

-Que estranho! Não teve libertação milagrosa, não teve nenhum milagre, vocês passaram por sofrimentos, não ganharam nada de material, sofreram prejuízo e ainda trabalharam para distribuir exemplares da Bíblia. Assim não tem graça! Queremos ficar emocionados com testemunhos espetaculares e vocês vêm com isso! E que ensino estranho vocês passaram a eles! Quer saber? Vocês não têm fé! Devem ser falsos profetas!


E os dois seriam expulsos da igreja.

Compare com Mateus 16:24-26, Atos 20:35, 2Coríntios 4:7-12, 2Timóteo 4:1-5