segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Evolução X Design Inteligente: Quem tem Medo do Debate Aberto e Limpo?

Resposta enviada à coluna do André Petry na Veja 04/02/2009 “Lembra-te de Darwin”

Quem tem medo do debate aberto? Por que os livros didáticos e os professores não podem dizer em essência: “Alunos, os argumentos a favor da Teoria da Evolução são ABC e os argumentos a favor do Design Inteligente são XYZ, raciocinem e tirem suas próprias conclusões”? Petry acredita que as pessoas são incapazes de pensar e que precisam ser “protegidas” da sobrecarga cerebral por só conhecerem um lado do debate, o lado dele? Se a Teoria da Evolução é tão superior e perfeita como diz, porque o medo de confrontá-la? Exigir obediência cega é característica dos estados totalitários e das religiões fundamentalistas.


Caro Petry, existem diversas vertentes tanto entre os que crêem na Evolução quanto entre os que acreditam no Design Inteligente. A Bíblia diz que só o ser humano tem 6.000 anos, não a vida na Terra, o planeta e o Universo. Em hebraico as palavras “dia” e “semana” significam basicamente “período” e “sete períodos”. Por exemplo, um setênio (sete anos) é uma semana de anos. Assim, a semana criativa é um conjunto de seis períodos ou eras (o sétimo dia da criação ainda não acabou). Cada “dia” ou período pode ter milhões de anos. E essa semana criativa começou depois da origem do Universo e da Terra.

A verdadeira ciência se alicerça na liberdade de opinião, análise e de conhecimento e ela é essencialmente antidogmática. A continuidade das pesquisas e das opiniões divergentes tem que ser permitida e respeitada. Com freqüência uma teoria que hoje parece imbatível amanhã se mostra inadequada e tem que ser corrigida ou mesmo substituída por outra que antes era menosprezada como heterodoxa, causando assim as quebras de paradigmas de Thomas Kuhn e desta forma a genuína Ciência se renova constantemente. Mas esse processo só pode ocorrer se houver liberdade de pensamento, divulgação e contestação.

Portanto, não se pode vencer um debate científico decretando a verdade oficial e calando os divergentes. Isso não é ciência, mas uma religião secular (movimento que imita a religião) chamada “cientificismo”, conforme Luc Ferry e outros pensadores apontaram. O cientificismo tem sua deusa-mãe (Natureza), seus mistérios e milagres (início e desenvolvimento da vida), seus profetas reverenciados e citados dogmaticamente (Darwin), seus templos, símbolos e rituais, sua esperança de vida após a morte (através da fama, etc.), seus pregadores fundamentalistas (Dawkins), seus dogmas (geração espontânea, mutações benéficas), seus anjos que visitam a Terra (a descoberta de vida extraterrestre supostamente comprovaria a evolução) seus sacerdotes (cientistas) seus hereges que devem ser calados e queimados vivos na fogueira do desprezo (os infiéis descrentes na evolução) e seus adeptos fanáticos (André Petry). A União Soviética praticou o cientificismo e vejam como terminou.

Carl Sagan dizia que ensinar o Método Científico é tão ou mais importante do que ensinar as descobertas, invenções e teorias da Ciência. Lamentava que os professores apresentavam apenas a Ciência pronta e não o processo longo e tortuoso que leva à sua produção. Deste modo a Ciência fica parecendo mais um dogmatismo que é imposto e deve ser crido cegamente e sub ameaça aos rebeldes que não se converterem.

Muitos cientistas defendem o paradigma da Teoria da Evolução (muitos por causa da pressão de seus pares). Mas não confunda os cientistas com a Ciência. A genuína Ciência não tem dogmas. O paradigma dominante hoje pode ser substituído amanhã. As pessoas têm o direito de conhecer todas as alternativas em uma apresentação neutra, pensar e escolher. Eu amo a Ciência, mas reprovo o cientificismo.